As atividades do segundo semestre de 2021 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão “As epistemologias do sul e a Violência de Gênero: Queixas, Reclamações – uma Pedagogia Feminista?” teve seu quinto encontro no dia 28 de outubro com a presença de Sara Ahmed, escritora feminista e acadêmica independente (todas as informações sobre Ahmed e sua trajetória estão no post anterior do nosso site).
Sara iniciou sua fala dizendo que pretendia realizar uma conversação informal sobre algumas reflexões e métodos na sua produção do livro Complaint!, essencialmente sobre sua atuação dentro e fora da universidade ao colocar em prática o feminist ear (“ouvido feminista”). Logo em seguida, Ahmed nos apresenta a ideia da pessoa reclamante no processo de realização das denúncias de práticas de violência dentro das universidades e de como o ato de “reclamar” (denunciar) está associado à imagem da feminista estraga-prazeres, que frequentemente não é ouvida.
O trabalho de Sara Ahmed, como uma “ouvido feminista”, destaca uma importante lição de como o exercício de um complaint collective, uma denúncia realizada de forma coletiva, pode significar a criação de um mecanismo de proteção. Segundo Ahmed, coletar e juntar experiências de violência ou de abusos de poder de várias pessoas de uma mesma instituição, para elaborar uma denúncia, é contar uma história compartilhada. Para a autora, esse trabalho e a linguagem de denunciar coletivamente representam como uma boa articulação entre pessoas dedicadas na erradicação das práticas de violência dentro da universidade pode refletir na criação de uma rede de proteção maior às vítimas, depois de realizada a denúncia.
Portanto, observamos que a atuação de Sara ao se tornar o “ouvido especializado” representou a falha da instituição em levar suas denúncias à sério. Essa rede de reclamações ganhou cada vez mais forças e importância dentro da universidade, pois colocou em destaque a falta de amparo de toda comunidade acadêmica que realizava uma denúncia, ou que pretendia realiza-la.
Trecho da Introdução do livro Complaint!: “Um ouvido feminista pode ser considerado como tática institucional. Para ouvir as reclamações, você precisa desmantelar as barreiras que nos impedem de ouvir as reclamações e por barreiras estou me referindo às barreiras institucionais, as paredes, as portas, que determinam muito do que é dito, o que é feito, de forma invisível e inaudível. Se você precisa desmantelar barreiras para ouvir reclamações, ouvir reclamações te torna mais consciente dessas barreiras…Se dá trabalho ouvir reclamações é porque dá trabalho para os outros entrarem em contato com você. Se tornar um ouvido feminista significa não apenas escutar as reclamações dos estudantes, significa também compartilhar o trabalho. O coletivo delas se torna o nosso coletivo, o coletivo delas se torna nosso. Eu penso nesse ‘nosso’ como a promessa do feminismo, não ‘nosso’ como posse, mas como convite, abertura, uma junção de forças”.
O trabalho que o LIEG tem realizado, enquanto grupo e enquanto futuro grupo de denúncias coletivas, representa a força de permanecer resistindo, estudando e pesquisando diante um cenário desafiador dentro da universidade. Somos feministas estraga-prazeres e queremos ocupar mais espaços como tais.