As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu sétimo encontro no dia 23 de junho, com a exposição de Rosário Figari, professora e pesquisadora da Cátedra de Estudos para a Paz da Faculdade de Direito da Universidade Justus-Liebig de Giessen, na Alemanha.
A professora Rosário se disponibilizou para nos apresentar um pouco sobre sua pesquisa que diz respeito aos avanços e desafios diante da problemática da Justiça de Transição e da Violência de Gênero na América Latina. Sua apresentação foi dividida em 4 eixos temáticos: 1- O que é justiça de transição? 2- Como ocorreu a manifestação da violência de gênero no contexto de conflitos armados e ditaduras na América Latina? 3- Como a justiça de transição pode contribuir para o enfrentamento e reparação da violência de gênero no contexto de graves violações de direitos humanos? E, por fim, quais são os limites e desafios da justiça de transição?
A aplicabilidade da justiça de transição, segundo a professora, possui diversas abordagens e, dentre elas, a restaurativa, transformadora e ordinária foram apontadas e utilizadas em alguns países da América Latina pós período ditatorial ou de violação de direitos humanos. Na dinâmica da violência de gênero, segundo Rosário, durante as ditaduras do Chile e da Argentina, várias formas de violência sexualizada foram sistematicamente perpetradas por agentes das Forças Armadas, com o objetivo de desmoralizar e destruir física e psicologicamente aqueles detidos ilegalmente nessa época. Na Guatemala, 30 mil mulheres foram vítimas de violência sexual e a maioria dos atos foram cometidos por agentes do Estado durante o conflito armado no país.
Concluiu-se que as manifestações da violência de gênero, como instrumentos de disciplina social, foram utilizadas, de diversas formas, na América Latina durante períodos ditatoriais. De acordo com Rosário, a violência de gênero contribuiu para marcar e reproduzir hierarquias sociais de dominação e subordinação generificadas, de forma massiva e expansiva territorialmente. Nesse cenário, a impunidade foi e tem sido um fator crucial para a reprodução e legitimação dessa ordem de Gênero. É nesse sentido que, pesquisadores e pesquisadoras atentas aos mecanismos de manutenção dessas estruturas, como a violência de gênero, precisamos nos apropriar de teorias e conceitos que nos auxiliam, mais efetivamente, a compreender historicamente e socialmente esses instrumentos.