No final de 2021, o grupo do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero da UNESP-Marília decidiu elaborar um dossiê sobre a temática da Violência de Gênero na Universidade, a qual norteia grande parte dos estudos de nossas pesquisadas. Segundo Lídia Possas, coordenadora do laboratório e do Grupo de Estudos Cultura & Gênero, a proposta teve por objetivo divulgar a produção acadêmica, fruto de experiências de pesquisas qualitativas e estudos realizados sobre o tema, que ainda não detinham significativos resultados e publicações, uma vez que as investigações e os trabalhos são recentes.
Dessa forma, em colaboração com nossos parceiros, o Instituto de Políticas Públicas de Marília e sua respectiva revista, reunimos os artigos das pesquisadoras do LIEG, para publicá-los nesse Dossiê I. Com essa publicação, o trabalho realizado pelo grupo conquistou, finalmente, a devida visibilidade e relevância na área.
Para ter acesso ao Dossiê I. “Violência de Gênero na Universidade”, clique aqui.
As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu quinto encontro no dia 27 de outubro com a presença da doutora em Ciências Sociais e antropóloga, Michelle Carlesso Mariano.
A exposição e discussão, no encontro, centraram-se no texto REESCREVENDO HISTÓRIAS E INSCREVENDO-SE NO TERRITÓRIO ACADÊMICO: as indígenas mulheres frente à violência nas universidades brasileira, de Nanah Sanchez Vieira e Tânia Mara Campos de Almeida. Podemos afirmar que esse texto traz uma nova face para o nosso grupo de estudos e pesquisa, na medida em que passa a apresentar novos conceitos e metodologias para refletirmos diante das demandas das indígenas mulheres, frente ao cenário de violência nas universidades.
No texto, na visão da Michelle, as autoras renovam o olhar e a posição teórica e metodológica para dar conta da temática da violência contra pessoas indígenas nas universidades. Os conceitos utilizados, e suas respectivas interpretações, são apresentados a partir da perspectiva das políticas ontológicas, as quais priorizam compreender os fenômenos pelo que eles de fato são. Ao romper com as epistemes e reformular o pensamento científico, para analisar a ocorrência da violência étnica e de gênero nas universidades, as autoras destacam sobre os três momentos específicos nas narrativas das trajetórias das mulheres indígenas nesse contexto:
A difícil saída da comunidade até a chegada no ensino superior e pós-graduado;
A vivência no mundo acadêmico marcada por preconceitos, racismo, machismo e outras formas de ofensas, assédios cotidianos e desamparo institucional;
Por fim, a luta pela permanência na universidade até o fim de seus cursos.
As autoras, ao centralizarem a análise para a realidade de vivência sociocultural das indígenas mulheres nas universidades brasileiras – ou seja, para aquilo que realmente ocorre e impacta na vida desse grupo étnico e de gênero nesse cenário –, evocam para uma mudança estrutural e interna no funcionamento dessas instituições. Para compreender essa realidade, as autoras utilizam de alguns discursos de indígenas mulheres que conseguem adentrar na universidade – coletados por uma pesquisa de doutorado Indígenas mulheres acadêmicas: vozes insurgentes e corpos resistentes nas universidades brasileiras, como a fala de Neli Duarte, Marubo do Vale do Javari (AM), doutorando em Antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ):
“[…] Quando chegou a notícia de que eu havia sido aprovada no curso, ainda houve quem chegasse para mim e dissesse coisas como: “Esse curso que você escolheu pouca gente escolha, porque só tem valor para as pessoas de fora”; “Fazer antropologia é perda de tempo”: “É um curso para quem não tem nada para fazer”; “É ainda pior no seu caso porque você é índia, como você vai estudar a si mesma?”
As barreiras e dificuldades enfrentadas por esse grupo específico de mulheres, como citadas pelas autoras do texto, devem ser levadas em conta no momento em que as universidades passem a priorizar o lema da pretensa “igualdade” ou do acolhimento. Importante destacar que, no texto, as autoras apresentam a ideia de Judith Butler, quando a pensadora afirma que a negação realizada pelo mecanismo da foraclusão é da ausência da inscrição em um campo simbólico, que organiza e estabelece a dita realidade. Portanto, nesse campo de disputas simbólicas: “corpo-território”, terra, povo, família, espiritualidade, memórias e lutas das indígenas mulheres são violentados e esquecidos pelos aparatos de proteção e acolhimento dentro das universidades. Com isso, para as autoras, a presença indígena nessas instituições de ensino superior coloca problemas epistemológicos e conceituais de outra natureza que aqueles pautados pela inclusão.
As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu quarto encontro no dia 13 de outubro, com a exposição da pesquisadora do LIEG, Beatriz Jorge Barreto.
A exposição do texto VIOLENCIAS DE GÉNERO Y ACOSO SEXUAL EN UNIVERSIDADES CHILENAS Y ECUATORIANAS, de Mercedes Prieto e Andrea Pequeño, iniciou com uma breve contextualização do Chile e do Equador. Dessa forma, foi possível observar o quadro de ascensão das mobilizações progressistas em ambos os países e a tentativa, por parte da direita conservadora, de barrar esses movimentos. Observamos que essa contextualização foi necessária para analisarmos o cenário político da América Latina, como um todo, pois a ocorrência da violência de gênero e do assédio sexual nas universidades não estão descolados da sociedade civil.
As autoras do texto analisaram: acontecimentos os quais possibilitaram que a academia estivesse no dentro do debate, em 2018, de ambos os países; a configuração das denúncias e sua vinculação com a estrutura de poder institucional e, por fim, ofereceram uma reflexão sobre os caminhos em marcha para a prevenção e sanção dessas violências que colocam em discussão a justiça de gênero.
É importante destacar que as autoras teorizam sobre a “resposta” da sociedade diante das mobilizações e paralisações estudantis contra a violência de gênero e o assédio sexual nas universidades chilenas e equatorianas. Em 2018, depois de mais de 150 mil pessoas irem às ruas e de 15 universidades ocupadas e mais de 30 faculdades em greve no Chile, essa nova onda feminista espantou e surpreendeu vários setores sociais. Segundo as autoras, esse fato revelou a limitação da compreensão das violências, como é o caso das universidades, conjugadas enquanto “casa de estudos” e não como espaço de produção e reprodução social da violência e da circulação do poder quid pro quo (compensação por status).
As pessoas que ocupam os cargos mais altos e prestigiosos nas universidades, que em sua maioria são homens, são beneficiados pelo sistema de quid pro quo. Nesse sentido, a impunidade dos perpetradores de violência nas universidades, revela como essas práticas se tornaram legítimas no intercâmbio de lealdades. Portanto, para as autoras, a decisão de denunciar é um processo difícil, na medida em que corre-se o risco de ruptura com a “família universitária”, com um espírito de corpo essencialmente masculino e com uma ativa rede de favores.
Concluímos que não basta instaurar protocolos de atenção e ação frente os casos de violência, pois omitem e desconsideram o contexto e as lógicas de poder e desigualdades entrelaçados na problemática. Conforme as autoras, uma política à nível de reitoria está sendo muito mais promissora, como demonstra em uma universidade do Chile. Essa política cria condições de equidade no acesso, permanência e saída do corpo estudantil – com ações de acompanhamento das vítimas para denúncia, de garantia do desempenho acadêmico e da integração da equidade de gênero na vida universitária como um todo.
O LIEG está se mobilizando, enquanto coalização e rede de fortalecimento do movimento contra a violência/assédio sexual na universidade, para elaboração do Guia para o futuro da Universidade, em breve traremos mais informações.
As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu terceiro encontro no dia 29 de setembro, com a exposição das pesquisadoras do LIEG, Jeimy Marcela Cortés.
O texto apresentado e discutido por Jeimy, intitulado ¡NINGUNA AGRESIÓN SIN RESPUESTA! ACCIONES DE COLECTIVAS FEMINISTAS UNIVERSITARIAS DE BOGOTÁ FRENTE AL ACOSO SEXUAL, buscou abordar o panorama das formas de resistência à violência de gênero, especificamente ao assédio sexual, na Universidad Javeriana de Bogotá, Colômbia. Jeimy iniciou sua fala abordando o contexto sócio-político da Colômbia, que nesse ano elegeu o primeiro presidente de esquerda no país, porém, em contrapartida, durante muitos anos, sofreu as consequências das duras reformas e avanços neoliberais na educação superior.
O texto objetiva realizar uma pesquisa situada e articulada em três momentos: revisitar as próprias ações contra a violência sexual como organização; criação de um “estado da arte” sobre feminismos, universidades e violência sexual e, por fim, revisão de documentação jurídica e criação de uma linha do tempo para identificar os momentos principais da luta dos movimentos estudantis feministas de Bogotá.
Nos últimos cinco anos, segundo as autoras do texto, a existência dos coletivos feministas tem sido primordial na conquista de direitos das vítimas de violência de gênero e sexual nas instituições de ensino superior, como o acolhimento psicológico e acompanhamento jurídico dos casos. A pressão exercida sobre a necessidade de responsabilização das universidades, com relação à violência ocorrida, fez com que muitos protocolos fossem elaborados, com o objetivo de discutir essas questões. No entanto, de acordo com as autoras, os movimentos feministas reconhecem que essas ações são insuficientes, pois muitos dos protocolos não chegaram a ser formalizados e, ainda, não cumprem com todas as demandas e necessidades existentes nesse contexto de violência.
Portanto, as autoras conseguem historicizar o avanço dos movimentos estudantis feministas e combatentes, na tentativa de transformar o espaço universitário enquanto político, de disputas políticas. Nesse sentido, apresentam as 4 políticas de afinidade, como base para politizar a produção de conhecimento feminista: ampliar o alcance das medidas contra violência sexual; evitar a revitimização; difusão dos protocolos e expandir a grade curricular, na tentativa de incluir tópicos de gênero, sexualidade e feminismos nos programas acadêmicos.
Por fim, colocamos aqui mensagens que ficam “para casa”, como diria Sara Ahmed, extraídas do texto. Segue os trechos para reflexão e aprendizagem:
As Universidades: devem fornecer garantia de autonomia para os movimentos feministas, consolidar um espaço contínuo e permanente de discussões de gênero e criar um espaço seguro e habitável para as mulheres, um espaço sujeito à transformação crítica.
Como “colectiva de género”: fortalecer a mudança geracional, a fim de manter a frente de ativismo universitário. A decisão de avançar para outras frentes de luta não suprime a necessidade de reconhecermos em trazer o feminismo para outros lugares de ativismo.
À esquerda: Cartaz de divulgação do encontro. À direita: Coord. LIEG, Lídia Possas.
As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu segundo encontro no dia 15 de setembro, com a exposição das pesquisadoras do LIEG, Beatriz Labadessa e Bruna Silva.
A discussão da atividade foi norteada pelo texto intitulado As contribuições científicas para a prevenção e superação da violência de gênero nas Universidades, escrito por Daniela Bellini e Roseli de Mello, o qual apresenta o escopo do debate mais amplo sobre a ocorrência da violência de gênero nas instituições de ensino superior. Nesse sentido, as autoras pretenderam evitar relativizar, duvidar ou menosprezar a dor e o sofrimento das pessoas vítimas dessas práticas, na medida em que o olhar mais sensível diante essas sujeitas ou sujeitos, é essencial para construção da teoria sobre a temática ou mesmo dos mecanismos de prevenção e acolhimento.
Reforçamos que violência de gênero não é sinônimo de violência contra mulheres, apesar destas serem também a maioria vítimas desse fenômeno nas universidades. Para compreender esse contexto e cenário conflituosos e hostis nesses espaços de ensino, as autoras afirmam:
A universidade não é descolada da sociedade na qual estamos inseridas (os), infelizmente há reprodução de comportamentos violentos em seu contexto, além disso, existem estruturas hierárquicas, dinâmicas permissivas e sexistas que criam um âmbito de hostilidade e culpabilização das vítimas, e a naturalização da violência nos relacionamentos. (Página 30 do texto)
No encontro, as falas, discussões e análises foram intensificadas com a apresentação das pesquisadoras do LIEG. Nesse sentido, antes mesmo da exposição sobre os dados nacionais e internacionais levantados pelas autoras no texto, a maioria, dos que estavam presentes na reunião, conseguiu criticar, avaliar e demonstrar as consequências e a manifestações da violência de gênero em cada contexto vivenciado e experienciado. Isso foi muito importante, pois expor sobre os caminhos dialógicos e científicos para uma universidade livre da violência, apontados no texto, se tornou essencial para fechar o encontro.
Por fim, no nosso encontro, foi possível realizar aquilo que as autoras afirmam ser a melhor escolha e estratégia de combate e prevenção da violência de gênero na Universidade:
[…] um modelo dialógico de prevenção e resolução de conflitos é essencial para superarmos a problemática, partindo do pensamento de Paulo Freire (1992) que indica que mudar é possível, e que essa mudança em se relacionar com as outras pessoas seja permeada pelo diálogo, amorosidade, respeito e confiança. (Página 44 do texto).
Cartaz de divulgação do encontroÀ direita: Beatriz Labadessa, pesquisadora do LIEG e graduanda em Ciências Sociais UNESP/Marília À direita: Bruna Silva, pesquisadora do LIEG e graduanda em Ciências Sociais UNESP/Marília
O painel “Ativismos de queixa e escuta feminista na UNESP/Marília: enfrentamento ao silenciamento do racismo e do sexismo na universidade”, das pesquisadoras Beatriz Jorge Barreto, Beatriz Labadessa de Oliveira e Bruna Oliveira, integrantes do LIEG – Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero, foi aprovado e será apresentado no próximo mês de maio na edição 2023 do congresso da LASA – Latin American Studies Association. O encontro acontecerá em Vancouver, no Canadá, e o tema geral da Seção de Gênero da LASA será “Racism and sexism as silenced and hidden violence in academy and academy associations”. A coordenação do painel é da pesquisadora Profa. Dra. Maria Inês Almeida Godinho e terá como debatedora a Profa. Dra. Lídia Maria Viana Possas, criadora do LIEG.
O objetivo do painel é apresentar as táticas “estraga-prazeres” de ativistas do campus Marília da UNESP, frente às violências raciais e de gênero vivenciadas diariamente por mulheres no ambiente universitário. A pesquisadora Sara Ahmed nomeou como “estraga-prazeres” as diversas estratégias criadas por mulheres para denunciar, expor e discutir estas violências frente ao recorrente apagamento realizado pelas instituições de ensino, que minimizam, silenciam ou ocultam as denúncias.
As atividades do segundo semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero começaram! A nossa ação de extensão Troca de Saberes e Vivências: “Violência de Gênero nas Universidades brasileiras e latino-americanas” teve seu primeiro encontro no dia 01 de setembro, com a exposição da coordenadora do LIEG e professora Lídia Maria Vianna Possas.
Nesse semestre, trabalharemos com textos da coletânea Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas, organizada por Tânia Mara Campos de Almeida e Valeska Zanello. A exposição da Lídia apresentou os pontos principais do artigo VIOLÊNCIA DE GÊNERO NAS UNIVERSIDADES: um panorama internacional do problema. Assim como trabalhos e pesquisas do LIEG têm feito, o texto buscou explorar o tema da violência de gênero nas universidades em uma abordagem internacional com base em pesquisas bibliográficas e documentais. Elaborou-se a hipótese de que a temática é questão fundamental no contexto da globalização contemporânea, apesar das disparidades socioeconômicas de cada país, ela revela a dinâmica de dominação e opressão na estrutura das relações de gênero nos espaços de ensino superior.
O texto é dividido em três seções, que abordam: características particulares da violência contra mulheres; análise de dados sobre a violência; tendências da violência contra as mulheres na pauta da sociedade global. A relevância de trazer essas discussões, como porta de entrada para leitura da coletânea, reside no fato de que consegue sinalizar e demonstrar que o problema da violência na universidade – que afeta toda comunidade acadêmica – é global. Dessa maneira, surge a necessidade de compreender esse fenômeno em escalas maiores para que, assim, seja possível dialogar com as formas de sua manifestação.
Por fim, as autoras Melina Lima e Eleonora Ceia concluem que o cenário, em todas as universidades as quais apresentam casos de violência contra mulheres, demonstra: o baixo índice de denúncias; o fenômeno recorrente da revitimização pelas instituições; preconceito machista e o estigma social sofridos; sentimento comum de responsabilização pela violência sofrida e o medo que mulheres sentem de terem suas carreiras prejudicadas. Portanto, o ambiente hostil e violento, já comprovado, analisado e observado em milhares de universidades ao redor do globo, continua a posicionar as mulheres como a maioria das vítimas das situações de violência de gênero nessas instituições.
Ao lado esquerdo: cartaz de divulgação da atividade. Ao direito: Profa. Lídia Possas
Convidamos a todos, todas e todes a participar da atividade de extensão do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (LIEG/UNESP-Marília), nesse segundo semestre de 2022, em colaboração com os parceiros do Instituto de Políticas Públicas de Marília (IPPMar) e do GT-Gênero (Anpuh-SP).
A Atividade de Extensão do LIEG, no segundo semestre de 2022, estará centrada na discussão e reflexão sobre os capítulos da coletânea Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latino-americanas, organizada por Tânia Mara Campos de Almeida e Valeska Zanello.
Nossos encontros abordarão as seguintes temáticas: panorama internacional da violência de gênero; as contribuições científicas para prevenção e superação do problema nas universidades; contexto da violência de gênero e assédio sexual nas universidades de Colômbia, Chile e Equador; as indígenas mulheres frente à violência nas universidades brasileiras; análise sociogendrada das emoções e subjetividades nesses casos e, por fim, uma investigação da problemática a partir da experiência de uma Audiência Pública em Brasília.
Portanto, nos apropriaremos de leituras e conceitos sobre a temática e daremos espaço para que cada integrante do Laboratório possa compartilhar os avanços, questionamentos e reflexões gerados pela pesquisa.
Este é o formulário de inscrição (clique em cima) para quem desejar participar das reuniões que ocorrerão no formato remoto (GoogleMeet), quinzenalmente, às quintas-feiras, das 14h30 às 17h. As atividades estão previstas para iniciarem no dia 01/09/22 e acabarem no dia 01/12/22. Será emitido certificado para aqueles/as que comparecerem em pelo menos metade dos encontros (50% ou mais de presença).
Período de inscrição do formulário: 18/08 – 28/08.
Unesp fortalece enfrentamento a violências na universidade ao criar política institucional, que constitui comissão de acolhimento e define formas de violência.
“A Unesp formalizou a criação de uma política institucional para o enfrentamento de diversas manifestações de violência que podem atingir a comunidade universitária, com o objetivo de proteger estudantes, docentes, servidores técnico-administrativos e demais colaboradores ou participantes das atividades universitárias de discriminação e assédio realizados dentro da Universidade”, segundo notícia.
De acordo com a matéria, entre as ações previstas na portaria está a criação de uma Comissão Central de Acolhimento, que tem como objetivo ouvir a pessoa vítima e buscar caminhos possíveis para ajudá-la. De fato, o surgimento dessa iniciativa traz visibilidade à problemática e traça caminhos concretos de mudança para o acolhimento das vítimas.
A professora Ana Maria Klein, que participou de uma das atividades de extensão do LIEG e é assessora da Coordenadoria (Caadi), afirma: “Na universidade, coletivos, pesquisas, aulas, debates, cursos dentre outras atividades têm contribuído para que estas violências sejam reconhecidas e enfrentadas como tais. Todas estas ações, que já vêm acontecendo na universidade, são agora consolidadas como uma política institucional”.
De acordo com pesquisa do jornal Distintas Latitudes (2019), realizada em 100 universidades da América Latina, 60% dessas instituições de ensino superior carecem de políticas para lidar com denúncias de assédio sexual. É nesse sentido que a UNESP, com as iniciativas, começa a de fato enfrentar o problema da violência de gênero e sexual nos seus espaços de ensino. Segundo Claudia Maria de Lima, ouvidora geral da Unesp: “A instituição da política dará mais força à Ouvidoria de Serviços Públicos da Unesp, não só à Ouvidoria Geral. Uma vez que as ações são padronizadas e coordenadas pela Ouvidoria Geral, todas as ouvidorias devem agir na direção mudar uma cultura de violências presente nas relações da sociedade brasileira”.
Podemos afirmar que estamos observando um avanço na tentativa de mobilização e enfrentamento da violência na UNESP. Dentro da universidade as mudanças ocorrem como consequência da mobilização dos diversos setores. É nesse sentido que o trabalho de pesquisadores, docente e estudantes, com o objetivo de tornar a violência tangível, balançou as estruturas institucionais e trilhou o caminho para a instauração dessa política de escuta feminista.
As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero chegaram ao fim! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu último encontro no dia 07 de julho, com a exposição de Natalia Silveira de Carvalho, professora e advogada, e de Ana Maria Klein, professora da UNESP do campus na cidade de São José do Rio Preto e membro da Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI).
A professora Natalia apresentou um pouco sobre sua pesquisa diante da temática da violência de gênero e da resistência feminista na Universidade. De acordo com uma citação da própria Lídia Possas, coordenadora do LIEG, a vivência no espaço universitário é perpassada por relações cotidianas e práticas essencialmente misóginas, conservadoras, elitistas e, de fato, contraditórias, pois não condizem com os discursos e a retórica de pessoas “esclarecidas”. A resistência com relação à violência nas universidades representa uma transformação significativa do espaço, que agora é palco do alargamento dessas frentes feministas.
As experiências femininas na Universidade, enquanto uma ideia que inclui também como corpos femininos são afetados, precisa ser analisada nesse espaço estrutural de produção e reprodução social de práticas sexistas, racistas e LGBTQIA+fóbicas. É nesse sentido que a violência de gênero e sexual atravessa a vida de diversos sujeitos no ambiente universitário, na medida em que é instrumento de manutenção e poder desse ordenamento, que marginaliza e violenta determinados corpos.
Nesse cenário, as resistências permanecem na luta e as universidades ainda têm muito trabalho pela frente, no sentido de responsabilização e atuação contra práticas de violência em seus ambientes. A fala de Ana Maria Klein nos auxiliou a visualizar quais são as melhores iniciativas e como proceder nesses casos. Segundo a professora, a UNESP tem desenvolvido uma série de ações educativas e regimentais que visam o enfrentamento à violência na Universidade. Para Klein, a institucionalização de tais políticas se consolidam com a criação, em 2022, da Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI).
Precisamos dar visibilidade e apoiar a instauração de políticas e de coordenadorias que visam à equidade, respeito e promoção dos direitos. São tempos difíceis para as mulheres e para os “desviantes”. O Brasil não dá descanso e nas universidades, enquanto reflexo da nossa sociedade, não é diferente. O trabalho que o LIEG tem realizado demonstra sua importância todo dia, na medida em que os casos de violência nas universidades não cessaram, mas encontram barreiras quando se chocam com nosso trabalho e movimentação.