No dia 27 de setembro de 2024, Giovanna Bem Borges, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de estudos de gênero – LIEG, defendeu sua dissertação de mestrado, sob orientação da Profª Drª Lídia Vianna Possas, coordenadora do LIEG, desenvolvida na Linha 2 do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unesp de Marília – FFC. Tivemos na banca a presença da Profª Drª Manuela Trindade Viana, da Universidad Javeriana de Bogotá, Colômbia, e da Profª Drª Cristina Wolff, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segue abaixo um resumo do trabalho cedido pela autora, assim como fotos do evento e link para o repositório de teses:
A Segunda Guerra Mundial é um dos acontecimentos mais estudados do século XX. Entretanto, como aponta Svetlana Aleksiévitch (2016a), a maior parte do que conhecemos sobre a guerra foi escrito por homens e para homens, que a consideram implícita ou explicitamente como um fenômeno masculino por excelência. Dessa forma, essa pesquisa pretende explorar o trabalho de Aleksiévitch, “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher” (2016a), com o intuito de pensar as relações de gênero na União Soviética a partir dos testemunhos das mulheres que serviram no front. O referencial teórico utilizado são os estudos de gênero na perspectiva de Raewyn Connell e Rebecca Pearse (2015) e a técnica para a organização dos dados é a análise do discurso baseada principalmente em Mikhail Bakhtin (2002; 2016). Em suma, ao priorizar as experiências e os testemunhos femininos em seu trabalho, Aleksiévitch não só desafiou a narrativa oficial da guerra, mas também questionou em alguma medida as relações de gênero soviéticas ao deslocar os marcos interpretativos do passado para outras questões e outros sujeitos, uma disputa política que tem repercussões até hoje no leste europeu. Contudo, embora seu projeto seja em vários sentidos inovador, ele se inscreve em um momento histórico no qual as disputas em torno da memória estavam subordinadas em alguma medida a um conflito maior em torno das metanarrativas da nação. Desse modo, frequentemente há uma dissociação entre a história que Aleksiévitch quer contar e história que suas interlocutoras desejam contar. Além disso, o ativismo da jornalista pela paz também implicou frequentemente em visões de gênero essencialistas que tinha como intuito questionar o ideal monolítico de nação, no qual em grande parte suas interlocutoras ainda se viam, embora não sem conflitos e contradições. Por isso a importância de entender o discurso através de seu aspecto dialógico. Ainda que Aleksiévitch tivesse o intuito de tirar essas mulheres da invisibilidade e dar um espaço para que elas pudessem discutir suas memórias livremente, sua tentativa de negar a guerra como uma experiência de valor implicou na adoção consciente ou inconsciente de estereótipos empregados no pós-guerra com o intuito de “desarmar” as mulheres do front, tanto simbólica como literalmente.
A dissertação já encontra-se disponível no Repositório Institucional da UNESP, no link https://repositorio.unesp.br/items/ecbb4229-7208-497b-aec7-db4e5b17f2a6.
Nós do LIEG parabenizamos a Giovanna por essa conquista, e agradecemos a troca e o aprendizado nesses anos de parceria.