Falar de assédio: por que não?

Arte por Prakash (https://dribbble.com/shots/3509561-Women-Harassment)

Ao longo dos últimos dias, acompanhamos a movimentação e reverberação de notícias sobre o então Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania Sílvio de Almeida, acusado de assédio moral e sexual (através de denúncias anônimas, tornadas públicas através de nota ONG Me Too), o que levou a sua demissão. As denúncias serão apuradas em processo investigativo.

Nós do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (LIEG) nos debruçamos sobre a questão do assédio de forma política e acadêmica desde 2014. Observamos que neste caso, a visibilidade e cargo público de alto escalão do governo mobiliza diversas questões, como as subjetividades testemunhais que estão nesse cenário complexo e de interesses políticos de toda natureza ideológica. Como pesquisadores da temática no âmbito acadêmico, acreditamos que todas as versões circulantes devem ser levadas em consideração, evitando privilegiar os sectarismos que estão ocupando as mídias digitais.

Práticas de assédio nas instituições vem sendo cada vez mais visibilizadas, e o debate se fortalece através de importantes pesquisas que estão sendo realizadas sobre o tema. Porém, as denúncias ainda encontram dificuldades para serem ouvidas e registradas. As universidades brasileiras, nosso campo de estudo, ainda carecem de ferramentas efetivas de prevenção, acolhimento e enfrentamento com maior agilidade devido a uma estrutura burocrática, que mantém as denúncias em um processo de circularidade, impedindo tomadas de decisões mais ágeis e acolhimentos mais efetivos. Prevalece a hierarquia das instâncias apuradoras, o que resulta em processos longos de decisão. Nossa pergunta é: Por quê?  Para conciliar interesses e relações de poder? Convidamos os leitores a refletir conosco sobre todas as nuances, interseccionalidades e interesses envolvidos nesse e em outros casos semelhantes nos nossos comentários.

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