As atividades do primeiro semestre de 2022 do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero continuam! A nossa ação de extensão Construindo Diálogos “Sobrevivência e Oralidade: (ins) escrevendo vozes, corpos e existências” teve seu quarto encontros no dia 12 de maio, com a exposição da Camila Rodrigues, professora da Rede Estadual do Estado de São Paulo e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista, campus de Marília.
A professora Camila apresentou sua pesquisa do doutorado e mestrado, diante das contribuições de Giorgio Agamben, em seu livro, intitulado O Que Resta de Auschwitz (1998). Agamben é um filósofo, autor de obras que percorrem temas que vão da estética à política e seus trabalhos mais conhecidos incluem investigações sobre os conceitos de Estado de Exceção, Homo sacer e a Vida nua e crua. De acordo com a pesquisadora Camila, no livro debatido, o autor objetiva compreender as dimensões da produção escrita dos sobreviventes do Holocausto nazista, a partir de uma análise profunda do papel do testemunho como documento histórico e de seus limites enquanto relatos pessoais.
Muitas das pesquisadoras do LIEG trabalham com mulheres ou pessoas vítimas de situações de violência, ou seja, sobreviventes. Esse conceito é essencial para compreendermos a posição de subordinação e vulnerabilidade dos sujeitos marcados e posicionados no sistema de gênero, raça, classe, geração, sexualidade e etc. É nesse sentido que, para Primo Levi e Giorgio Agamben, o testemunho é um documento histórico, pois permite que o relato se torne prova de fatos concretos. Nos casos de violência doméstica, tema do estudo de Camila Rodrigues, o testemunho não é suficiente para comprovar a veracidade dos acontecimentos. Isso ocorre devido ao fato de que as instituições policiais e jurídicas reproduzem práticas, comportamentos e falas permeados pela estrutura cultural e histórica machista e sexista.
De acordo com Camila, apesar das mulheres vítimas de violência disporem de espaços institucionais para realizarem denúncias, os mesmos não oferecem uma escuta acolhedora, pois não são propícios para que possam ser ouvidas. O acolhimento é precário por parte de alguns agentes jurídicos e policiais, que descredibilizam o testemunho das vítimas. Logo, foi possível visualizar e examinar o porquê da permanência e aumento dos casos de violência doméstica e a carência de políticas de gênero ou feministas, que pudessem amparar e diminuir os números das vitimadas. Com essa exposição, mais uma sessão da nossa atividade nos auxilia para construção de olhares e metodologias feministas, com o intuito de enriquecer nosso trabalho no grupo, enquanto coletivo ativo na Universidade.