Texto de Vitor Lages.
Na quarta-feira, dia 26/10/2022, às 14hrs, tivemos a honra de receber no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília, em parceria com o LIEG, a Professora Letícia Nascimento, autora do livro “Transfeminismo”. A obra foi publicada em 2021 pela editora Jandaíra e compõe a Coleção Feminismos Plurais, a qual é organizada pela filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro.
Letícia Nascimento é mestre e doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e professora da referida universidade. A partir de seu lugar de fala como mulher travesti, negra e gorda, nos instiga a pensar o feminismo para além da mulher cisgênera, heterossexual, branca, de classe média, magra e sem deficiências. Inicia sua obra com a famosa frase de Sojourner Truth, estadunidense negra que diante de uma plateia de mulheres brancas atônitas perguntou, em 1851: “E eu não posso ser uma mulher?”
Desta vez, com uma rica literatura do campo, Letícia busca abrir espaço no feminismo para sujeitas mulheres que, como ela, desafiam não só a branquitude mas a imposição da cisgeneridade como norma de compreensão do gênero conformada pelos órgãos genitais. Como a filósofa Judith Butler, apresenta um contraponto a teorias feministas que compreendem existir uma verdade biológica dos corpos – o sexo, o órgão sexual – e, a partir dessa verdade sexual, uma construção cultural e histórica sobre os papeis do sexo feminino e masculino na sociedade – o gênero. Ao contrário disso, o transfeminismo compreende o próprio sexo como uma dimensão discursiva, tal como o gênero. Ambos são construídos performativamente na cultura e na sociedade, existindo várias formas de mulheridades e de feminilidades que ultrapassam a barreira dos órgãos genitais considerados “de mulher”.
A estrutura machista que impõe o lugar subalterno de inferioridade social a todas as mulheres – cisgêneras, travestis, transexuais e não binárias –, em decorrência de suas diferentes feminilidades, precisa ser combatida através de uma frente ampla que considere suas diferentes interseccionalidades, e, consequentemente, as diferentes formas que a violência misógina as atravessa.
Mulheres travestis, transexuais e não binárias sempre estiveram no front de batalha, vítimas das mais perversas manifestações de machismo e transfobia em todos os âmbitos sociais, e hoje adentram às universidades e lutam para que seus olhares epistemológicos sejam também considerados dignos de estudo e defesa como integrantes da luta feminista tanto na academia quanto nos movimentos sociais. Esse é o brado coletivo de diversas precursoras da teoria transfeminista no Brasil, como Beatriz Bagagli, Bruna Benevides, Caia Coelho, Céu Cavalcanti, Hailey Kaas, Helena Vieira, Jaqueline Gomes de Jesus, Megg Rayara, Mariah Silva, Maria Clara Araújo, Sara Wagner, Yuna Vitória e de nossa convidada Letícia Nascimento. O papo com a autora foi muito instigante. Vale a pena conferir.
Profª! Letícia esse Encontro foi instigante e motivador ! Agradecemos !